O CAVALO MARINHO
O Cavalo Marinho é uma das variantes do bumba-meu-boi. A brincadeira é composta por música, dança, poesia, coreografias, loas, toadas e reúme cerca de 76 personagens. Estes estão divididos em três categorias: animais, humanos e fantásticos. Destaques para o Capitão Marinho, Mateus, Bastião, o Soldado da Gurita, Empata Samba e Mané do Baile.A música e o canto são os fios condutores de toda a trama e são executadas pelo "banco", cujo instrumental é formado por rabeca, pandeiro, recos e um mineiro (também chamado de ganzá). E o que é o Cavalo Marinho?É um grupo de folguedo popular que se manifesta na música e principalmente na dança para a valorização e preservação de expressões autênticas da cultura popular em sua comunidade. Inspirada pelas festa as de reis, a apresentação é regada de significados e tem como enredo, lendas, romances, narrativas heróicas de figuras fantásticas e animais glorificados, explicou seu Zé Bento.E com tantos símbolos e autenticidade, é praticamente impossível não ser hipnotizado por cerca de 40 brincantes (entre jovens, idosos e crianças) vestidos de cores fortes, dançando xote, xaxado, sapateado e mais um monte de danças que nem eles sabem dizer o que são. “O que o som da zabumba pede a gente faz”, explicam os brincantes, ficando fácil notar a empolgação deles em torno de todo o clima mágico que os envolve. A tradição do Cavalo Marinho aqui na Paraíba,”comçou com o Major Ciraulo viveu nos ano s 20.Ele era residente em Bayeux sempre trazia grupos de cultura popular de Bananeiras e Borborema (cidades do interior da Paraíba) pras grandes festas dos fazendeiros da região.Essas festas: começavam as 8:00h da manhã e só tinham fim às 6:00h do outro dia! Matavam-se galinhas, um boi... A mesa tinha de ser farta. Logo em seguida, o grupo que o Major trazia chegava e só parava de dançar para comer, à 1:00h da manhã, voltando depois com todo o pique e interagindo com os moradores e trabalhadores da região. A dança era tão empolgante e fazia tanto sucesso que os habitantes locais começaram a reproduzir no dia-a-dia os movimentos dos tais grupos do interior, com total incentivo do major Ciraulo, que dispunha de uma casa próxima à Ponte do Baralho (divisão entre Bayeux e João Pessoa) pra sediar os ensaios. Foi naturalmente eleito um mestre que cuidava da apresentação, e um coordenador que cuidava das reuniões e organização do grupo. Pronto! Estáva formado o cavalo Marinho da Paraíba. E a quantas anda o Cavalo Marinho hoje? Quase 100 anos depois, a maior luta (que se torna também um grande trunfo) é manter essas manifestações que foram tão importantes para seus pais e avós fiéis às originais. Seu Zé Bento faz questão de dizer a todo instante que seu grupo é o mais tradicional existente hoje em dia, mas mesmo assim teve que se render a algumas adaptações óbvias: se antes o espetáculo durava mais de 24 horas, agora tudo é resumido em 40 minutos, além de haver uma preocupação grande com divulgação, que não é tão fácil como se imagina. Estamos falando de um povo muito carente que ainda toma um susto danado quando falamos em computador e Internet. E no nosso tempo, com a facilidade e velocidade da informação, quem não está na rede praticamente não existe, fica inacessível... Mas seu Zé Bento está lá, na sua casa escondidinha em Bayeux para nos provar que existe um mundo que não usufrui nada disso, que pra entregar um release a quem quer que seja tem quem passar na xerox do outro lado da cidade. E sua missão é essa. É viver sem nenhuma verba ou apoio para manter o grupo, é perder as contas de quantas vezes teve que tirar dinheiro do próprio bolso para consertar figurino e comprar instrumentos musicais para apresentação.Mas o maior problema mesmo é quando surge uma oportunidade de levar o folguedo para fora do estado com o objetivo de participar de algum encontro ou festival
Dá pra perceber a importância desse grupo? E não estou falando só da apresentação em si, mas principalmente do poder de mobilização que o folguedo tem em sua comunidade, da busca por uma identidade cultural e educação de um povo que acha que cultura é coisa de gente chique. Trazer a possibilidade de viagens e cultivar o respeito de gente como Ariano Suassuna e Gilberto Gil não têm preço pra essa comunidade. O Cavalo Marinho é algo que se sente. Só olhando nos olhos dos seus brincantes é que nós podemos entender realmente, na prática, a importância que a preservação desse legado histórico / cultural tem: o de fazer sentir-se atuando na produção cultural do estado, reativando seus valores humanos e sociais.
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